Exercicio pós-vôo
Os abutres em estado selvagem já aprenderam que têm que deixar a carcaça para trás antes de o sol se pôr - isto porque depois de encherem o papo seria complicado levantar vôo sem a ajuda das preciosas correntes de ar ascendentes.
Há uma lição muito importante a tirar - não devemos levar mais do que aquilo que podemos carregar... especialmente se vamos voar!
Na ultima das minhas frequentes viagens entre Lisboa e Newcastle (UK) tive o previlégio de sentir na pele o efeito borboleta que serve de ilustração à teoria do caos! Reparem:
> Diluvio no Reino Unido > Atrasos no espaço aéreo em Manchester > Atraso de 1h no meu vôo para Amsterdão > Serviço de Handling consegue ser mais lento que eu a jantar e a bagagem fica em Amsterdão enquanto eu regresso a Lisboa!
Bom... há dias em que a borboleta deve causar uma leve brisa e outras em que consegue criar furacões! Não era dia de brisas...
Na chegada a Lisboa comecei por ser prendado (eu, os outros passageiros e toda a tripulação do avião!?) com uma espera de 1 hora só para sair a primeira mala no tapete rolante! Pior estavam os passageiros vindos de Milão que estavam há hora e meia à espera das malas... no tapete rolante errado! (sim, o serviço de handling tinha metido tudo no tapete errado!)
Imaginem o dilema - de repente todos começam a pensar "E se eles tambem fizeram o mesmo com o nosso vôo e estamos aqui há uma hora feitos parvos a olhar para o tapete errado?!". Começa então a debandada: quem tinha amigos e familia tentou vigiar o maior numero de tapetes colocando os sentinelas em posições estratégicas. Quem estava sozinho, como eu, ia passeando pelos tapetes todos (sempre dava para ir esticando as pernas!).
O ponteiro dos minutos vai dando a volta, as malas vão saindo (ao mesmo ritmo), e após mais uma hora a ver as malas dos outros a sair, o tapete pára! Magnifico, o avião chega às 23h e eu à 1h do dia seguinte vou esticar as pernas para o gabinete de perdidos e achados para fazer a minha reclamação... eu e mais uma duzia de passageiros, o que implica mais uma meia hora de espera para ser atendido (naturalmente). Estive sentado 1 minuto! ...só para me dizerem que a mala estava em Amsterdão e chegaria no avião das 12h. Sendo possivel receber a mala em casa, optei por isso... achei que já tinha esticado as pernas no aeroporto tempo suficiente. O problema é que eles, qual "personal trainer", acharam que não!
Mala entregue à porta de casa que é bom... nada! Lá tenho eu que telefonar para o Call Center da Groundforce, tal como era indicado na reclamação:
Eu dou informação sobre a bagagem... e esta foi a resposta...
CC - Não temos informação se a sua bagagem já chegou.
Eu - Como não? Não sabem onde está a mala?
CC - Não temos essa informação.
Eu - Mas... a mala ainda está em Amsterdão? (já a pressentir a criancisse do - "Porquê? Porque não.")
CC - Não temos essa informação. Vai ter que esperar.
Eu - Vou ter que esperar quanto tempo?
CC - Não lhe sei dizer.
Eu - Oiça... vou ter que esperar umas horas, uns dias, o quê??
CC - Não tenho essa informação.
Eu (a ficar sem paciência... o que é raro!) - Então quem é que tem essa informação?
CC - Talvez os meus colegas no aeroporto.
Eu (eureka) - Mas... eu não estou a falar com alguem no aeroporto?
CC - Não, está a falar para o Call Center.
Eu - Bom, então e não pode contactar os seus colegas no aeroporto para obter essa informação?
CC - Não. Vai ter que esperar.
ÓBVIO! Como pude eu ser tão idiota ao ponto de pensar que o Call Center, que serve para dar informações, me poderia dar realmente alguma informação e me atrevi sequer a considerar a possibilidade de que, não tendo a informação, tinham alguma forma de a obter!!?
E ainda se admiram que as estrelas de cinema atirem telefones à cara de algumas pessoas. A sorte deste senhor não foi eu não ser estrela de cinema... foi a cara dele não estar por perto!
[não perca o próximo episódio... em que eu vou esticar mais um bocadinho as pernas para o aeroporto!]